Para muitas mulheres, como eu, maternidade é um sonho. Nunca sonhei em encontrar o homem perfeito, com casamento, a profissão perfeita ou mesmo a casa própria. Algumas dessas coisas simplesmente aconteceram, como a quem não espera. Para mim, meu maior sonho sempre foi ser mãe. E, dentro de mim, tinha a certeza de que iria acontecer, não importava como. Era somente uma questão de tempo.
Mas todo sonho tem um preço...
Meu marido é vazectomizado e, apesar de ter feito reversão, não há passagem de espermatozóides. Depois de muito pensarmos, decidimos investir em fertilização in vitro. O procedimento é caro, longo e doloroso. Li milhões de artigos online, passei horas em biblioteca investigando sobre os diferentes procedimentos e então decidimos procurar um especialista para tratarmos do nosso caso específico.
Comecei a tomar o anticoncepcional assim que minha menstruação desceu. Pode parecer estranho pensar em anticoncepcional e fertilização, mas este é usado para garantir as datas de fertilização e acompanhamento da linha uterina.
Levaria apenas alguns semanas e eu estava super esperançosa. Fizemos todos os exames necessários e tudo estava perfeito (tamanho do útero e ovários, hormônios etc). A cada passo, mais esperançosa eu ficava. Eu tinha certeza de que engravidaria. Então fui fazer a ultrassonografia para iniciar com as injeções hormonais. Foi então que o médico encontrou um cisto no meu ovário. Fizemos os exames de sangue e eles disseram que nos ligariam caso o cisto estivesse crescendo.
Meus primeiros pensamentos foram: "de onde surgiu esse cisto?" "por que não viram isso antes?" "que castigo estou recebendo?" (dentre muitos outros...)
Ao ligarem para mim, não consegui atender o telefone. Scott ouviu tudo com paciência e quais os procedimentos a seguir. Ao olhar para ele vi nitidamente a decepção em seus olhos: o cisto estava crescendo. Deveria continuar tomando o anticoncepcional por mais 2 1/2 semanas. Fiquei arrasada.
As semanas se arrastaram. E o dia da ultrassom chegou novamente. Minha mãe, tão querida e atenciosa, tinha vindo ficar comigo por causa desse processo, para me apoiar e cuidar de mim. Ao chegar na clínica encontrei uma amiga de escola (na época em que estudei na Timpanogos High School). Ela e o marido estavam passando sob o mesmo procedimento. Esperamos na recepção por mais de meia hora - o que, para mim, pareceram três horas - até que a enfermeira veio nos buscar. E então veio a boa notícia: o cisto havia desaparecido e eu poderia começar com a medicação.
Uma injeção todas as noites por seis dias. Ovários que são do tamanho de uma noz transformam-se em duas laranjas grandes - em oito dias. Sentia-me inchada, a barriga doía, doía para sentar, para deitar, para andar. Dormir era um privilégio não exercido. Eu precisava urinar a cada hora. Uma amiga descreveu como o desconforto sentido nas últimas semanas de gravidez. No sétimo dia comecei a tomar duas injeções por dia. No décimo dia tomei três injeções. Já disse que essas injeções eram na barriga? Que apesar das agulhas serem bem finas, podem deixar hematomas? (Eu tive três) Que em um dos remédios as agulhas não são bem afiadas e você sente entrar em cada milímetro da pele? Que a dosagem de HCG para liberar os óvulos é tão alta que o teste afirmou que eu estava grávida? E nem mencionei as dificuldades emocionais.
Foram retirados vinte e dois óvulos. Destes, somente onze eram maduros suficiente para tentar fertilização. Dos embriões fertilizados, somente cinco sobreviveram. E destes, a qualidade de todos foram considerados razoáveis à pobres. Esperamos três dias. No dia do implante, uma das enfermeiras que havia passado pelo mesmo processo veio conversar comigo e disse que no caso dela todos os embriões foram considerados pobres e ainda assim ela teve gêmeas.
E foi então que tive as mais longas duas semanas da minha vida. Os dias se arrastavam, como se os relógios parassem a cada hora por mais uma hora. A agonia de não saber é inexplicável.
Dia 08 de abril. Fui ao banheiro e ao me limpar encontrei sangue. Não muito, mas o suficiente para me preocupar. A enfermeira disse que era normal e que isso acontecia com muitas pacientes.
Dia 09 de abril. Levantei para me preparar para sairmos de férias, malas prontas e precisei usar o banheiro. Mais sangue. Entrei em desespero. Liguei para minha mãe, conversamos por um tempão e ela me dizendo para ser paciente e não desistir tão fácil, poderia ser apenas uma descarga e que logo passaria. No avião cólicas. E foi então que tive certeza de que não estava grávida.
Aquela certeza de ser mãe já não é mais tão forte. Talvez o desejo de ser mãe seja apenas isso: um sonho.